domingo, 30 de março de 2014

Da mulher abandonada ou como relembrar a adolescente que eu não fui

Porque sou budista, e psicóloga, e mulher, e adulta, o que eu sei é que vou construir minha própria resposta. E quem construiu a fantasia foi você. Quem se queixava de saudade era você. Quem falava de desejo e me atiçava era você. E eu. Eu também. Mas precisei te reler (Ah, bendita tecnologia que sobrepassa minha memória). Não era de um, era de dois. Sabe-se lá porque (nunca saberei) não pôde ir, você não pode seguir. Mas essa história não foi só minha. Posso chamar minhas testemunhas e continuar brigando. Mas nada vai mudar. Nada. Porque o que era de dois agora é de um. E eu sigo, brigando comigo, tentando matar a adolescente dentro de mim que te implora descabelada por um último beijo, um último suspiro, um último minuto de despedida decente. Ela grita, ela faz o que eu queria poder fazer, ela se ajoelha e faz a cena ridícula da mulher abandonada. Preciso dar um golpe de misericórdia neste ser tão imaturo, tão não analisado, tão selvagem. Mas ela sequer parece precisar, sufoca no próprio choro, arqueja. E eu a assisto, sem saber se devo estender a mão, devolver o ar, se ajudo a gritar, ou se sigo sem olhar naqueles enormes e doces olhos castanhos que eu vejo no espelho.

Nenhum comentário: