segunda-feira, 24 de novembro de 2008

TRilha Sonora para "O Fantasma"

Canção Para O Grande Amor
Vinicius de Moraes


Despedi o grande amor de mim
Dizendo assim: grande amor
Não se esqueça de voltar

Porque a dor do amor que teve fim
Que foi ruim, sei que sim
Outro amor há de apagar

E há de ser sempre assim:
Minha casa aberta
E na mesa posta um talher a mais
Um cinzeiro a mais
E no seu lugar a mesma mulher a esperar

A mesma mulher pronta pra dizer
Entre, por favor, quando alguém surgir
Quando alguém chegar
Pode ser o amor, pode ser a dor, pode ser

Preciso ter muitas rosas para receber
O grande amor
Quando for
Sua hora de voltar

O Fantasma - Parte 3

Foi depois de um e-mail meio desesperado, meia dúzia de frases no msn e algumas semanas que voltaram a se ver. E agora ela estava curtindo outro amor. E agora? Não pôde recusar um convite para uma roda de samba em Botafogo. Não poderia. Ela tinha decidido ser fiel ao seu passado, fazer justiça. Não poderia aceitar essas histórias de amores que acabam assim, mortos de fome, de sede, de falta. Quando o viu no metrô, sentiu um choque percorrer a coluna. Era engraçado vê-lo careca, e em sua memória ele sempre tinha 6 anos a menos. Talvez, ela também acreditasse ter 6 anos a menos. "Eu era só uma menina perdida".
Chegaram em Botafogo e chegou uma crise de gastrite para ela. O que diabos estava fazendo ali? Não conseguiu beber, tinha a impressão q nada entraria por seu estômago. Aqueles olhares cheios de palavras que nunca iam ser ditas. À medida em que o lugar ia ficando cheio, mais se sentia mal, mais vontade de sumir ela sentia. Nada pra dizer? Muito. Medo.
-Eu quero ir pra casa.
-Relaxa. Daqui a pouco eu te levo.
às dez da noite não aguentava mais. Suava frio, o estômago doía, não conseguiu mais ser leve, e ele a segurava pela mão.
-Fique. Você vai ser recompensada por isso.
E quem disse que isso era um prêmio? Era uma tortura, era um atraso de seis anos, aquelas palavras que talvez se produzissem pelo álcool nele. Não poderia esperar nem mais um segundo. Saiu quase correndo, em direção ao metrô.
A princípio, ele achou que ela voltaria ao se dar conta de que estava indo sozinha. Ela sempre voltava. Deixou que ela chegasse na esquina para ligar no celular.
- Eu não vou voltar.
E não voltou. Agora, de fato, ela corria. O celular não parava de tocar. Era ele, assustado. Ela não ia mesmo voltar? Seria possíveL?
Ela atendia o telefone, ouvia aquela voz arrastada, e dizia que não ia voltar. Era só o que podia dizer.
As ligações ficaram menos espaçadas. Ela ficou mais enfática. Estava correndo. Correndo de salto alto e arfante no celular.
Ele pediu.
Como assim, pedir pra voltar? Seis anosa depois? Aquilo era uma metáfora. Ela percebeu. Não podia voltar.
Entrou na estação do metrô. Sentou-se. Por que fugia?
Sabia. Não suportaria aquele olhar no dia seguinte de novo. Não poderia lidar com isso, se não fosse de verdade. Não era justo passar uma noite de reencontro para se perder com o amanhecer.
O celular não parou de tocar até uma da manhã. Estava em casa de camisola, e ele ligava. Doía. Doía demais em seu peito, mas não conseguiu dizer que voltaria, se fosse pra ser de verdade. Porque nunca mais seria. Era só um remake, uma sequência infeliz.
Saudades demais. Mas já era a hora.
Chega de saudade...

O Fantasma - Parte 2

E ela foi encontrá-lo na hora marcada. Sapato de salto, maquiagem, e roupa de psicóloga de RH. Já tinha aceitado essa pose toda, quase parte dela. Lembrou-se que da penúltima vez que convcersaram, ela era uma hippie muito estranhazinha.
A cerveja altera estado de Consciência. Ele a olhou, mas não a encarou. Seu salto fazia um barulho desagradável pela biblioteca.
-Oi.
-Shhhh.
Levou-a para fora.
- hoje não dá pra falar com você.
Deu um beijo em seu rosto e entrou, andando tão depressa que ela não pôde se despedir.
Olhou para os olhos pintados no reflexo da porta de vidro. Era assim? 6 anos depois, ele reaparecia só para fugir de novo? Ela saiu. O salto alto fazia um barulho insuportável.

O Fantasma - Parte 1

Atravessou a Praça XV com o coração aos pulos. Andava depressa demais, mas não conseguia andar mais devagar naquele momento. Quanto tempo? Não conseguia precisar, mas achava que não o via há 5 anos. Sim. Tinha visto ele do outro lado da rua, no primeiro dia de aula no ISERJ, mas não o cumprimentou, e achava que não tinha sido vista. Já estava na hora.
Enfim, lá etava ele. Uns 20 quilos mais gordo, muito mais careca. Ela riu de si mesma. Achava que tinha melhorado com o tempo.
- Oi.
- Cerveja?
- Claro.
E aquela conversa típica de quem perdeu muito mais que o contato com o passar dos anos. Estava sentindo calor, apesar de ser uma tarde agradável. Sentia-se sufocada. Mestrado, trabalho novo, e o fulano, tem notícias? Como esse dialógo seria diferente? Não seria. Um hippie passou para vender artesanato. Foi convidado a sentar-se com eles. Nunca mais fez esse tipo de coisa. Nunca mais tinha sido tão aberta para a vida. Onde é que eu vim parar mesmo? Súbita vontade de sair correndo dali. Aquela ameaça ao bom senso.
Ele delicadamente se despediu do hippie.
E de repente pegou sua cadeira e sentou-se ao seu lado. Ela se sentiu ameaçada. A mesa não mais os separava. Não se lembrava da ultima vez em que ficaram tão perto um do outro. Mentira. Lembrva de cada detalhe da última vez em que ele esteve tão próximo.
Ele a beijou. O tempo parou de novo. Sentiu o rosto queimar, o peito queimar. Já estava bêbada.
- Precisávamos desse beijo para voltar a ser amigos, era o que faltava.
- Não acho.
Achava que, de fato, aquele beijo urgia, mas há 5 anos. E não, não sabia se queria só o melhor amigo de volta.Não sabia de nada, naquele minuto. O coração ainda não tinha voltado ao pulsar normal.
- Eu te amei um dia. Eu sofri muito. - A voz dela saía num tom abaixo do que gostaria.
- Eu também.
Como duas pessoas podiam se gostar, se amar reciprocamente, e sofrer por não estar juntas?
- Eu tive tanto medo de você. Você era mais velha, era tanta coisa.
- Eu era só uma menina.
E talvez continuasse sendo. As palavras estavam difíceis. Parecia um sonho. voltaram a se beijar.
- Eu tinha medo.
Na verdade, o beijo não acabava, era um movimento continuo.
Na estação do metrô, fazendo carinho no rosto dele, e não conseguia acreditar. Por que esperar 5 anos? Aquele rosto diante dela não era o mesmo. Beijou cada milimetro de pele, para se assegurar que era real. Havia momentos em que não o reconhecia. Se sentia insegura, e se for outro? E se não for ele?
Ele perguntava insistentemente se ela estaria ali no dia seguinte.
- Como eu não estaria? Quem sumiu foi você.
- Nunca mais eu faço isso.
Era um sonho. Era um sonho. Só podia ser...
Tatuagem no braço esquerdo dele: "Chega de Saudade"