segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O Fantasma - Parte 1

Atravessou a Praça XV com o coração aos pulos. Andava depressa demais, mas não conseguia andar mais devagar naquele momento. Quanto tempo? Não conseguia precisar, mas achava que não o via há 5 anos. Sim. Tinha visto ele do outro lado da rua, no primeiro dia de aula no ISERJ, mas não o cumprimentou, e achava que não tinha sido vista. Já estava na hora.
Enfim, lá etava ele. Uns 20 quilos mais gordo, muito mais careca. Ela riu de si mesma. Achava que tinha melhorado com o tempo.
- Oi.
- Cerveja?
- Claro.
E aquela conversa típica de quem perdeu muito mais que o contato com o passar dos anos. Estava sentindo calor, apesar de ser uma tarde agradável. Sentia-se sufocada. Mestrado, trabalho novo, e o fulano, tem notícias? Como esse dialógo seria diferente? Não seria. Um hippie passou para vender artesanato. Foi convidado a sentar-se com eles. Nunca mais fez esse tipo de coisa. Nunca mais tinha sido tão aberta para a vida. Onde é que eu vim parar mesmo? Súbita vontade de sair correndo dali. Aquela ameaça ao bom senso.
Ele delicadamente se despediu do hippie.
E de repente pegou sua cadeira e sentou-se ao seu lado. Ela se sentiu ameaçada. A mesa não mais os separava. Não se lembrava da ultima vez em que ficaram tão perto um do outro. Mentira. Lembrva de cada detalhe da última vez em que ele esteve tão próximo.
Ele a beijou. O tempo parou de novo. Sentiu o rosto queimar, o peito queimar. Já estava bêbada.
- Precisávamos desse beijo para voltar a ser amigos, era o que faltava.
- Não acho.
Achava que, de fato, aquele beijo urgia, mas há 5 anos. E não, não sabia se queria só o melhor amigo de volta.Não sabia de nada, naquele minuto. O coração ainda não tinha voltado ao pulsar normal.
- Eu te amei um dia. Eu sofri muito. - A voz dela saía num tom abaixo do que gostaria.
- Eu também.
Como duas pessoas podiam se gostar, se amar reciprocamente, e sofrer por não estar juntas?
- Eu tive tanto medo de você. Você era mais velha, era tanta coisa.
- Eu era só uma menina.
E talvez continuasse sendo. As palavras estavam difíceis. Parecia um sonho. voltaram a se beijar.
- Eu tinha medo.
Na verdade, o beijo não acabava, era um movimento continuo.
Na estação do metrô, fazendo carinho no rosto dele, e não conseguia acreditar. Por que esperar 5 anos? Aquele rosto diante dela não era o mesmo. Beijou cada milimetro de pele, para se assegurar que era real. Havia momentos em que não o reconhecia. Se sentia insegura, e se for outro? E se não for ele?
Ele perguntava insistentemente se ela estaria ali no dia seguinte.
- Como eu não estaria? Quem sumiu foi você.
- Nunca mais eu faço isso.
Era um sonho. Era um sonho. Só podia ser...
Tatuagem no braço esquerdo dele: "Chega de Saudade"

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